Originalidade
pura, precisa-se!
Texto de Ivânia Alexandre
09/10/2012
Hoje estamos em crise, mas não vou falar da crise
económica ou política que assola o nosso país e o mundo em geral! Estou a falar
de uma crise de originalidade, mais concretamente, crise de invenções! Num
mundo de acesso fácil a todo o tipo de informação (e quando falo em informação,
refiro-me à arte, pintura, música, notícias, cinema, fotografia, etc, etc…),
onde até o mais insignificante pensamento de um qualquer cidadão pode ter um
impacto global através da internet, vemo-nos numa situação de excesso de
informação que se repercute numa metamorfose da criatividade, afastando-se esta
da originalidade de criar invenções.
Numa breve análise temporal podemos ver que existiu
claramente um “boom” criativo nos anos 60, o qual se estendeu até meados
dos anos 90. Num sentido geral, qualquer pessoa dita "artista"
procurava algo inspirado nas suas próprias experiências e estas eram limitadas
por diversas condicionantes económicas e sociais; quando estas barreiras eram
ultrapassadas, dizia-se ser "original". Temos grandes exemplos destes
casos, como Jimmy Hendrix, Steven Spielberg, Pablo Picasso, até mesmo Amália
Rodrigues, entre muitos outros. Com a massificação de conteúdos, as gerações
seguintes habituaram-se a ter acesso imediato a tudo, perdendo assim grande
parte da sua originalidade! De facto, ser original dá trabalho, pois é preciso
saber analisar, aprender, estudar determinadas ideias e conceitos, para depois
podermos formular ou criar algo original, isto é, algo realmente novo de raiz!
Deste modo, é mais fácil ser criativo, pegar nas ideias dos outros e moldá-las
para criar algo diferente. Temos assim um romance adaptado a um filme, um remake
de uma qualquer telenovela, um fado tocado ao estilo de música Pop ou um
quadro da Monalisa pintado tipo Andy Warhol, deixaram de ser originais e
passaram a ser composições criativas.
Não deveríamos pedir às novas gerações que sejam criativas, mas sim que sejam originais, que inventem o que ainda não foi inventado! E, para que isso seja possível, é necessário reestruturar mentalidades. Hoje em dia dão toda a liberdade aos jovens para fazerem o que quiserem e serem o que sonharem, mas tudo sem saírem de casa, limitando-se às 32” do ecrã de televisão. A questão é que, lá fora, o mundo continua por descobrir…
Neste conceito, a criatividade afasta-se cada vez mais
do pensamento original que lhe deu origem.
Quando nos é exigido reinventar, acontece que é
necessário pensar/agir fora da nossa “bolha”, temos de ir além daquilo que nos
deixa seguros e convictos. Temos de ir além da nossa zona de conforto.
Nesta dita zona de conforto de cada um, nada nos é exigido no sentido de nos contrariarmos. Estar constantemente dentro da mesma rotina onde não há imprevistos é, por exemplo, viver confortavelmente enquanto criança “debaixo da saia da mãe”. Porque tudo aquilo que vivenciamos, ou mesmo que pensamos, é trivial, não nos obriga a dar mais de nós. Ao contrário do que podemos julgar, estar na zona de conforto, não nos está a proteger, mas sim, a limitar a pessoa que somos.
Saindo da zona de conforto, alargamos os nossos horizontes, conhecemos os nossos limites, apaixonamo-nos, arriscamos, vivemos! Neste lugar desconfortável, desafiamo-nos constantemente, para saber quem realmente somos.
O problema de sair da zona de conforto é o medo de errar. Mas quantas respostas criativas ou originais não são consequências de erros ou falhanços? Como refere Sir Ken Robinson* “If you’re not prepared to be wrong, you’ll never come up with anything original.”
Arrisque-se a atuar sobre situações que à primeira vista aparentem ser impossíveis de resolver, onde a solução seja algo que nos inquiete. O desconforto será uma situação temporária! Verá que aquele dilema que o “assustava”, mais tarde, depois de o confrontar, tornar-se-á banal.
Fazer algo com que não nos sentimos confortáveis cria um impulso para sermos mais originais e exigentes connosco mesmos, força-nos a competir interiormente para dar respostas exteriores. Esta postura proativa face aos desafios desenvolve novas competências e capacidades que devemos estimular de forma contínua.
Em jeito de despedida deixo esta pequena reflexão: para estarmos adaptados à realidade atual e darmos resposta à competitividade que nos rodeia, é necessário agarrarmos situações desconfortáveis!
*A propósito
da referência a Sir Ken Robinson supracitada, deixo o seguinte link:
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