A necessidade de se definir Educação
traduz-se na ideia de que os diferentes conceitos existentes não se podem
dissociar dos contextos histórico-filosóficos, para se perceber o seu percurso.
No entanto, educar pressupõe a
existência de uma filosofia de Educação, objetivos e de intervenientes, com
funções diferentes.
De um modo geral, educar "é um processo que se inicia desde que
se nasce, acompanhando o crescimento e desenvolvimento do homem. É um processo
contínuo e de relação com os outros". (Dias, 1996, p.7)
Tendo subjacente a dinâmica e
dependência do outro e do eu, educar, nas sociedades primitivas consistia em
transmitir valores, crenças, costumes e o papel de cada um em sociedade. Estas
aprendizagens eram realizadas em família, conjuntamente com a ajuda de outros
elementos pertencentes da comunidade.
Do ponto de vista Sociológico, Tavares
considera a Educação como uma das formas de transmissão da cultura, "sendo a Escola, que deve ensinar, um
dos responsáveis, senão o principal, pelo processo de inculturação que todo o
jovem tem obrigatoriamente de frequentar no nosso país, dos cinco/ seis anos
até pelo menos aos quinze/ dezasseis anos, ou seja, do 1º ao 9º ano de
escolaridade obrigatória, como determina o nº 1 do art. 6º da Lei de Bases do
Sistema Educativo". (1998, p.40)
Para Durkhein "A educação é a ação exercida pelas gerações adultas, sobre as
gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por
objetivo suscitar e desenvolver, na criança um certo número de estados físicos,
intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e
pelo seu meio especial a que a criança, particularmente se destina".
(1984, p.89). A primeira característica que ressalta da educação é que ela é
uma ação social e não uma ação individual. Ou seja, a educação não é o
resultado de uma ação individual entre pai e o filho " educação familiar
" ou o professor e o aluno "educação escolar", mas entre duas
categorias sociais distintas, a geração adulta e a geração jovem. O adulto age
como representante da geração adulta e transmite conhecimentos, atitudes e
valores, considerados ajustados ao jovem e este recebe e aprende esses
conhecimentos e valores. A segunda característica é que a educação é uma ação global.
Tem em vista todos os aspetos da vida social e não apenas alguns. É uma
formação global em dois sentidos:
Primeiro do ponto de vista da formação
do indivíduo, visa desenvolver-lhe a inteligência, através da aquisição de
conhecimentos e métodos de raciocínio e o carácter, através da interiorização
de atitudes e comportamentos;
Segundo do ponto de vista da sociedade,
a educação visa integrar o jovem na sociedade. A terceira característica é que
a educação é uma ação unilateral dos adultos sobre os jovens. Os adultos
transmitem atitudes, conhecimentos técnicos, e os jovens recebem, aprendem e
incorporam na sua vida esses conteúdos. A geração adulta é o elemento ativo,
transmissor da educação e a geração jovem o elemento passivo, recetor.
Finalmente, uma última característica da educação é que ela é de natureza
unitária e harmónica. Isto resulta do facto de o agente educativo ser um
indivíduo ou um grupo específico. Os indivíduos quando educam agem em nome e
por delegação da sociedade. É a sociedade que investe os seus membros
na função educativa, e os sanciona no respetivo exercício. A educação tem uma
dupla função, duplo papel; unificação e de divisão. Por um lado, a educação
opera visando uma determinada forma de coesão social; por outro, constitui um
agente de reforço da divisão e das estratificações sociais existentes. A
educação é múltipla, diversificando-se e orientando-se para cada estrato, no
interior de uma classe.
Toda e qualquer definição de Educação
devem ser encaradas numa perspetiva global, isto é, como um "facto social
total". Daí que, a escola deva ter como base determinada a conceção das
relações entre o indivíduo e a sociedade, pelo que a escola deva ser criada
para a conservação e o aperfeiçoamento da vida social, que deve ser democrática
e cumprir as mesmas regras existentes na sociedade.
O objetivo da Educação é dar à criança
a independência, o domínio sobre si e prepará-la para que se adapte às
modificações do meio e o saiba transformar, pelo que a Educação, que é exercida
pelos adultos sobre as crianças, deva ser feita com o intuito de a modificar e
a adaptar à realidade atual.
Porém, a Educação, é atualmente confundida
com o ensino, ou seja, com a educação escolar.
Tavares encara o conceito de Educação
segundo duas perspetivas:
A primeira diz respeito à relação dos
indivíduos com a sua vida social. e a segunda tem a ver com a preparação
intelectual do mesmo para ser um fator produtivo na sociedade.
"A educação tem que ser encarada sob dois aspetos complementares de um
todo orgânico envolvente tendente a preparar o indivíduo para a sua missão na
sociedade (...) Condiciona o comportamento individual ao comportamento do grupo
integrando-o nos padrões culturais deste. (...) É o ensino/ aprendizagem, a
educação". (1998, p. 34-35)
Para Nérici, "educação é o processo que visa preparar as gerações novas para
substituírem as adultas e que, naturalmente, se vão retirando das funções
ativas da vida social ". (1984, p. 7). Isto é, a Educação realiza a
conservação e transmissão da cultura a fim de haver continuidade da mesma
(valores, formas de comportamento social de comprovada eficácia na vida de uma
sociedade).
Do ponto de vista biopsicológico, a
educação tem por objetivo levar o indivíduo a desenvolver a sua personalidade.
Segundo Nérici (1992, p.76), educação "é
o processo que visa levar o indivíduo, a explicitar as suas virtualidades e a
encontrar-se com a realidade, para na mesma atuar de maneira consciente,
eficiente e responsável, a fim de serem atendidas necessidades e aspirações
pessoais, sociais da criatura humana".
Daí que, a Educação deverá de ajudar o
indivíduo a revelar-se como pessoa, preparado para a vida adulta, atuando de
maneira eficiente, que lhe proporcione técnicas de atuar que possam multiplicar
o produto dos seus esforços.
A educação tem de sensibilizar o
indivíduo para os valores sociomorais. O homem moral é aquele que avalia as
consequências dos seus atos em sentido profundo de respeito pelo seu
semelhante. Segundo Nérici: "O homem
que não depreda, mas reflete, admira e constrói. Homem que não atira pedras,
mas que as retira por onde se deva passar; que não agride, mas coopera; que não
ridiculariza, mas reconhece e estimula; que, no dizer de emersos, não só deixa
viver, como ajuda a viver... Enfim, homem que não destrói, mas que, de uma
forma ou de outra, constrói". (1992, p.45).
A escola no seguimento da família,
acompanhando as diversas mutações de valores, costumes, princípios, ideais e
tradições, tem como função primordial formar pessoas, ajudar a família na
formação e construção do indivíduo e contribuir também para a sua socialização,
quer fornecendo contextos de interações variadas extrafamiliares, quer
explicitamente promovendo e otimizando o processo de socialização, como parte
do currículo. Assim a Educação assenta no sentido social, no saber fazer, numa
contínua reestruturação da experiência de cada um, de modo a partilhá-la com os
outros. A escola deverá ainda estar preparada para se ajustar aos gostos,
necessidades e carências dos alunos materiais e sentimentais. Porém, a escola,
ainda não se encontra preparada para promover um ensino baseado nas relações
afetivas entre alunos e professores, em virtude de se encontrar mais inclinada
para o desenvolvimento cognitivo.
Deste modo, será lícito afirmar que a
escola deva apresentar-se aos alunos como a segunda casa, local onde estes se
possam sentir bem, sem medos, receios e com muita satisfação. Por isso, a
satisfação, e em última análise, o sucesso dos alunos depende, em grande parte
da escola.
AUTORA: Sandra Afonso
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