quarta-feira, 17 de abril de 2013

Empreendedorismo Social: Pequena revisão da Literatura - Ruben Amorim - Técnico Superior de Educação Social


Empreendedorismo Social: Pequena revisão da Literatura

Social Entrepreneurship: Brief Review of the Literature

Ruben Amorim

Técnico Superior de Educação Social

Portugal

 

Resumo

O propósito deste artigo é realizar uma pequena revisão da literatura de modo a definir o conceito de empreendedorismo social e o empreendedor/a social, a sua emergência e as diferenças para com o empreendedorismo comercial.

Ao longo do artigo é possível perceber que o conceito de empreendedorismo social encontra-se muito mal definido e que existem várias perspetivas em torno do mesmo.

Palavras-chave: empreendedorismo social, empreendedor/a social, transformação social e inovação.

 

Abstract

The purpose of this article is a brief review of the literature to define the concept of social entrepreneurship and the social entrepreneur, its emergence and differences in entrepreneurship for business.
Throughout the article you can see that the concept of social entrepreneurship is poorly defined and there are several perspectives about the same.
Keywords: social entrepreneurship, social entrepreneur, social change and innovation.

 

Introdução

“Os empreendedores sociais não se contentam em dar o peixe e/ou ensiná-lo a pescar. Eles não descansam enquanto não revolucionam a indústria do peixe”.

 (Drayton, 2006).

O empreendedorismo social ou a atividade empresarial com fins sociais tem vindo a aumentar nas últimas décadas (Austin et al., 2006). Com efeito, este conceito é relativamente recente, existindo imensas questões por explorar. Num Mundo emergido em dinamismos brutais, onde o risco e a incerteza, bem como os desafios permanentes colocam os indivíduos em situações de desconforto social, sendo, por exemplo, a pobreza um desses mesmos riscos é imperativo existir novas soluções, apoiadas em inovações de modo a existir uma maior coesão e equidade sociais.

O presente artigo tem como propósito abordar a temática do empreendedorismo social, através da sua contextualização, definição e apresentação das diferenças com o empreendedorismo tradicional.

Os pontos a abordar passam por uma descrição da emergência do empreendedorismo social, para que se possa contextualizar o seu surgimento e em que condições apareceu na literatura e, essencialmente, na prática, isto é, apoiados em casos reais. Posteriormente, passa-se á definição do conceito de empreendedorismo social e, consequentemente, à apresentação de várias perspetivas de quem é o/a empreendedor/a social. Os empreendedores sociais descobriram ou criaram novas oportunidades através do processo de exploração, inovação, experimentação e mobilização de recursos. Os empreendedores sociais necessitam de continuar com as suas visões de futuro, persuadindo financiadores para investir nas suas ideias e mobilizar as pessoas a despenderem tempo e competências nos seus projetos (Dees, 2007; Wallace, 2007). Neste sentido, o empreendedor social é alguém carismático e influente na sua comunidade ou até mesmo a uma escala mais alargada. De seguida, apresenta-se, sumariamente, as diferenças e semelhanças entre o empreendedorismo tradicional e o empreendedorismo social, uma vez que existem imensas perspetivas relativamente a este assunto. Embora sejam conceitos diferentes, apresentam algo em comum.

Na parte final do artigo é efetuada uma pequena conclusão onde se apontam algumas reflexões inerentes ao empreendedorismo social.

 

Emergência do Empreendedorismo Social

O conceito de empreendedorismo tem sido debatido há imenso tempo no âmago dos negócios e riscos económicos. Porém, na atualidade, tem sido largamente aplicado ao contexto social e á resolução dos seus problemas (Dees, 1998a; 1998b; Thake e Zadek, 1997; Emerson e Twersky, 1986). O empreendedorismo social emergiu nos inícios dos anos 80 a partir dos trabalhos de Bill Drayton, na Ashoka, e Ed Skloot. O primeiro financiou inúmeros projetos de inovadores sociais espalhados pelo Mundo. O segundo apoiou novos empreendimentos que, consequentemente, ajudou empresas não lucrativas a explorar novas fontes de receita. Mais recentemente, Muhammad Yunus alertou para a proeminência do conceito de empreendedorismo social quando foi premiado com o Prémio Nobel da Paz por ter criado o Grameen Bank no Bangladesh (Smith e Nemetz, 2009). Este foi um projeto (ideia) repleta de inovação que tornou possível o financiamento de pequenas ideias de negócios. Contudo sem o microcrédito seriam inviáveis e inexequíveis.

De acordo com Stryjan (2006) e Weerawardena e Mort (2007), o empreendedorismo social é visto como uma emergência, sendo que a sua definição é baseada num conceito coletivo e decorrente das práticas desenvolvidas. Com efeito, depreende-se que as intervenções, baseadas no empreendedorismo social, visam refletir-se em grandes grupos de pessoas. Paralelamente, a definição do conceito foca projetos desenvolvidos para obter maior coerência e pragmatismo.

O conceito é recente, mas muito em voga e traduz-se numa das inovações contemporâneas capaz de resolver problemáticas sociais que, por sua vez, são muito exigentes e desafiantes. Em consequência de no campo académico ser um conceito relativamente novo é, ainda, imaturo e com falhas profundas (Dees e Anderson, 2006), mas muito rico e com possibilidades de ser explorado com linhas de investigação muito interessantes.

O Empreendedorismo Social

Para muitos autores o empreendedorismo social é um conceito mal definido (Weerawardena e Mort, 2006: 21). Até à data, a literatura que aborda a temática do empreendedorismo social tem sido limitada à descrição de estudos de caso, focados na sua definição que assim descuraram a construção de uma teoria (Harding, 2004).

O empreendedorismo social envolve transformações sociais gerando, para tal, ideias de novos produtos e serviços (Schwab, 2008). Nesta abordagem incluem-se negócios que tenham como principal preocupação objetivos sociais e que realizam um enorme investimento dos seus proveitos em prol da comunidade (Morris, 2007).

Segundo Austin, Stephenson e Wei-Skillern (2006) o empreendedorismo social é sinónimo de inovação, criando valor social nas atividade que podem ser desenvolvidas dentro ou fora do setor não lucrativo, empresarial e do estado.

De acordo com Smith e Nemetz (2009), existem duas grandes abordagens relativamente ao empreendedorismo social. A primeira foca-se nas intenções e resultados (Alvord et al., 2004). A segunda nas oportunidades e necessidades como adaptação à realidade das empresas sociais (Vyakaraman et al., 1997). Na primeira abordagem, a tónica do conceito assenta na inovação para a resolução de problemas sociais persistentes, tais como a pobreza e a marginalização que, em alguns casos, tem tido muito sucesso como fator impulsionador e catalisador da transformação social. Paralelamente, no lado mais pragmático, a Schwab Foundation for Social Entrepreneurship descreve o empreendedorismo social como a algo prático, inovador e sustentável nas abordagens em benefício na sociedade em geral, dando enfase aos pobres e marginalizados. Esta perspetiva indica que o empreendedorismo social é uma abordagem única aos problemas sociais e económicos porque é baseada em valores e processos que são transversais a cada empreendedor social que olha para a sua sociedade ou organização (Schwab Foundation, 2008). Na segunda abordagem é estabelecida uma comparação aos procedimentos do empreendedorismo tradicional. Com efeito, é fundamental recorrer-se à inovação e experimentação com base em necessidade/oportunidades detetadas na sociedade.

Contudo, existem outras abordagens/perspetivas em torno da definição do conceito de empreendedorismo social e seus objetivos. Por exemplo, alguns autores mantêm o foco no empreendedorismo social como uma combinação comercial das empresas com impacto social. Nesta perspetiva, os empreendedores usam o negócio, as suas competências e conhecimentos para criar empresas que tenham objetivos com fins sociais, ao invés de priorizar o sucesso comercial propriamente dito (Emerson e Twersky, 1996). Evidencia-se, assim, que este tipo de organizações/indivíduos visam, inequivocamente, ações com fins sociais. Com efeito, as organizações não lucrativas podem criar subsidiárias e usa-las para gerar emprego ou reverter os ganhos para causas sociais. No caso das organizações lucrativas, podem doar alguns dos seus proveitos ou organizar as suas atividades para fins sociais. Estas iniciativas integram recursos gerados pelo sucesso das atividades comerciais que desenvolvem e sustentam as suas atividades sociais.

Outros, ainda, colocam a enfase no empreendedorismo social como inovação para o impacto social. Nesta perspetiva, a atenção centra-se na inovação e nas parcerias que têm consequências positivas para a resolução dos problemas sociais, onde se presta pouca atenção à viabilidade económica através de um critério de negócio ordinário (Dees, 1998b). Os empreendedores sociais estão focados nos problemas sociais e eles criam iniciativas inovadoras, constroem novas parcerias sociais e mobilizam recursos em resposta aos problemas, mais do que se dedicam ao mercado e a critérios comerciais.

Por fim, existem autores que vêm o empreendedorismo como uma forma de catalisar a transformação social, enfrentando os problemas sociais e procurando soluções para os mesmos. Nesta abordagem, o empreendedorismo social é preponderante para produzir pequenas mudanças num curto prazo, refletindo-se através da existência de sistemas catalisadores de grandes mudanças a longo prazo (Ashoka Foundation, 2000). O empreendedorismo social define-se, nesta abordagem, como algo necessário, não só para os problemas imediatos e espontâneos, mas também para os de longo prazo e mais complexos.

O Empreendedor/a Social

Bill Drayton, CEO, chair and founder of Ashoka, a global nonprofit organization devoted to developing the profession of social entrepreneurship (2006, p. 3).

Habitualmente são construídos modelos de empreendedores/as sociais, sendo, inclusivamente, objetos de estudo. Não obstante é fundamental obedecer a um certo rigor científico de modo a podermos atribuir a alguém este estatuto. Com efeito, os empreendedores sociais são “pessoas que intervêm onde detetam uma oportunidade para satisfazer ou verificar uma necessidade onde é fundamental combinar recursos para dar seguimento à sua resolução, uma vez que o sistema não consegue resolver todas as questões de índole social” (Thompson et al., 2000).

No que respeita às suas qualidades, o empreendedor social comporta um forte ímpeto ético, vontade de corrigir algo errado na sociedade, desejo de se libertar, cruzar fronteiras disciplinares e a capacidade de “trabalhar em silêncio” (Bornstein, 2007). Em consequência deste comportamento e atitude, a motivação para o empreendedorismo social é baseado no apoio a pessoas descriminadas e negligenciadas, onde são necessários argumentos financeiros e políticos para se perceber quais os benefícios para eles próprios (Martin e Osberg, 2007).

A Skoll Foundation defende um empreendedorismo social através da concretização da sua missão que se traduz “em defender uma mudança sistémica em benefício das comunidades de todo o Mundo, através do interesse em contactar outros empreendedores”. A Skoll indica que “os empreendedores sociais são líderes comprovados, cujas abordagens e soluções para os problemas sociais estão a promover a melhoria de vida e as circunstâncias de inúmeros indivíduos carentes ou desfavorecidos” (Skoll Foundation, 2008).

Existem, ainda, outras perspetivas relativamente à caraterização do agente que empenha o empreendedorismo social. Bornstein (2004) afirma que o empreendedor social tem ideias novas e poderosas, combina o seu poder visionário e o Mundo real para assim resolver os seus problemas de forma criativa, possuí uma forte ética e é totalmente possuído pela sua visão de mudança. Já Ligth (2006) define o empreendedor social como um individuo, grupo, Network, organização ou aliança de organizações que pretendem a sustentabilidade e uma mudança em larga escala, através de ideias que representem uma quebra de paradigma manifestadas pelo estado, empresas não lucrativas e lucrativas com o objetivo de resolver os problemas sociais.

Como se observa, as perspetivas e o foco da definição do conceito do que é, efetivamente, um/a empreendedor/a social são múltiplas. Porém, importa reunir o máximo de contributos, no sentido tornar o conceito mais robusto sob o ponto de vista científico.

Diferenças entre o empreendedorismo empresarial e o empreendedorismo social

Joseph Schumpeter (1931) descreve o empreendedorismo como a criação de uma nova combinação de recursos, através de atores discretos que reformam e revolucionam os padrões de produção (questionam as rotinas).

Segundo Alvord, Brown e Letts (2002) o empreendedorismo na vertente tradicional visa a criação de negócios viáveis e de crescimento. Em contrapartida, as metas do empreendedorismo social passam pela mudança no sistema social que criam e mantêm o problema, embora as organizações envolvidas possam tornar-se pequenas ou inviáveis para promover essa mesma transformação social.

Uma nova perspetiva assenta na de Mallin e Finkle (2007), que referem que o empreendedorismo social difere do empreendedorismo tradicional na medida em que o empreendedor social é, por vezes, quem reconhece o problema social e empenha os princípios do empreendedorismo para organizar, criar e gerir o seu projeto de modo a produzir uma mudança social. De um modo geral, transferindo para o conceito organizacional, existindo este tipo de comportamento, as entidades tendem a ser não lucrativas, em conformidade com os objetivos a que os empreendedores sociais se propõem.

Resumindo, o empreendedorismo empresarial centra-se em criar riqueza e traduz-se numa forma clara de promover o desenvolvimento económico, porém, o empreendedorismo social centra-se em tornar o Mundo num local melhor (Cukier et al., 2011).

Para finalizar, importa referir que Dees e Anderson (2006) sugerem que estas duas abordagens representam duas formas de pensamento distintas. Contudo, afirmam que devem cooperar, não entrando em competição, de modo a que o empreendedorismo social fique mais enriquecido.

Conclusão

O empreendedorismo social é um tema atual e que se assume como uma das soluções para a resolução das problemáticas sociais. O número crescente de organizações não-governamentais (ONG) é evidenciado pela The New Nonprofit Almanac and Desk Reference (2002), referindo que houve um aumento de 31% (1,2 milhões) em organizações sem fins lucrativos, que superaram, de longe, o aumento de 26% em formações de novos negócios. Reconhecendo isso, o empreendedorismo social vem ganhando crescente interesse na literatura académica e no setor público (Mallin e Finkle, 2007).

Relativamente ao conceito de empreendedorismo social são múltiplas as definições e perspetivas. A inovação, o impacto social e a transformação social são, entre outras, palavras de ordem e que estão estritamente relacionadas com o empreendedorismo social. Todavia, importa referir que o empreendedorismo social é, ainda, um conceito mal definido e que não assenta na preocupação de formular uma teoria capaz de a sustentar cientificamente.

No âmago na figura do empreendedor/a social é de toda a importância referir que existe um grande número de pessoas/organizações/instituições que definem outros tais como empreendedores sociais. Não obstante o mérito das pessoas que apresentam trabalho no sentido de resolver problemáticas sociais, não é conveniente generalizar e despersonalizar o conceito. De modo geral, o empreendedor/a social empenha o seu trabalho em prol de causas sociais, recorrendo aos seus conhecimentos e competências para, de modo empreendedor e inovador, colmatar as necessidades deixadas por um sistema cada vez menos protetor sob o ponto de vista social.

O olhar atento sobre os conceitos de empreendedorismo e empreendedorismo social é demasiado importante para que se percebam as suas diferenças e semelhanças. O empreendedorismo tradicional/comercial visa, essencialmente, o lucro, enquanto o empreendedorismo social assume como prioridade os fins sociais. Assim sendo, os princípios poderão até ser semelhantes, mas o fim é diferente (ao nível das causas).

O empreendedorismo social é, hoje, mais do que um conceito, uma prática levada a cabo por empresas lucrativas e não lucrativas. Todavia, quando as iniciativas são várias para o mesmo fim, a consequência e a causa defendida pode reduzir o seu impacto. É fundamental que o empreendedorismo social não seja politizado e seja exercido de modo desinteressado. Torna-se imperativo que as pessoas tenham competências na área do empreendedorismo (social) para que possam redobrar as atenções, apresentando soluções para os novos desafios que vão surgir, numa sociedade cada vez mais dinâmica e imprevisível e onde o Estado Social é menos capaz de responder às necessidades que se apresentam.

Artigos científicos consultados |

·         Alvord, S.; Brown, L. e Letts, C. (2004), “Social Entrepreneurship and Societal Transformation: An Exploratory Study”, The Journal of Applied Behavioral Science; Sep 2004; 40, 3; ABI/INFORM Globalpg. 260.

·         Cukier, W. e col. (), “Social Entrepreneurship: A Content Analysis”, Journal of Strategic Innovation and Sustainability, Vol. 7(1), pp. 99 – 119.

·         Dees, J. G. (2001), “The meaning of “social entrepreneurship.” Center for the advancement of Social Entrepreneurship”, Fuqua School of Business, Duke University, Durham, NC. Retrieved from:


·         Dees, J. G. (1998), “Enterprising Non-profits. Harvard Business Review”, 76, 55-67.

·         Dees, J. G., & Anderson, B. B. (2006), “Framing a theory of social entrepreneurship: Building on two schools of practice and thought”, In R. Mosher-Williams (Ed.), Research on Social Entrepreneurship: Understanding and Contributing to an Emerging Field, ARNOVA Occasional Paper Series, 1(3), 39-66.

·         Mallin, M. e Finkle, T., (2007), "Social entrepreneurship and direct marketing", Direct Marketing: An International Journal, Vol. 1 Iss: 2 pp. 68 – 77.

·         Smith, T. e Nemetz, P., (2009), "Social entrepreneurship compared to government foreign aid: Perceptions in an East African village", Journal of Research in Marketing and Entrepreneurship, Vol. 11 Iss: 1 pp. 49 – 65.

·         Vyakaranam, S., Jacobs, R.C. e Handelberg, J. (1997), “Formation and development of entrepreneurial teams in rapid-growth business”, paper presented at the Frontiers of Entrepreneurship Conference, Babson College, Babson Park, MA.

 

terça-feira, 16 de abril de 2013

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Programa do IV Encontro dos Técnicos Superiores de Educação Social

Já estão abertas as inscrições para o
IV Encontro dos Técnicos Superiores de Educação Social para o próximo dia 18 de Maio com o tema: Promoção da Qualidade de Vida em Contextos Comunitários: O papel do Educador Social.
Informamos que só dispomos de 200 lugares e por motivos de segurança do auditório este número terá que ser cumprido.
Façam já a vossa inscrição no seguinte link https://docs.google.com/forms/d/1kd0gZm0BnRVjjwBO7sif6G82E6RjBYeK1oyFiuD8WSk/viewform#start=openform